quinta-feira, 2 de julho de 2009

Helena e a alegria de Bandeira na Flip







Por Luciano Dinamarco, de Paraty (RJ)

O jornalista Bruno Zeni diz no blog oficial da festa que a Flip é um evento que conta com tempos múltiplos, que combina experiências diversas e termina por ser uma obra coletiva, em que escritores, leitores, críticos, artistas, jornalistas, viajantes e paratienses se encontram em momentos diferentes de suas experiências de vida. Concordo!

A Flip também é o lugar onde se encontram grandes intelectuais e escritores, e grande jornalistas escrevendo sobre eles. Esta é a imagem que eu suponho que ela tenha para a maioria da população.

Alguns autores admiro, outros nada li de suas obras, mas os conheço simplesmente por ter lido sobre eles, em regra, em críticas escritas por grandes jornalistas. Outros nem isso.

Esta relação, embora interessante, não é a razão que me move ate aqui.

Além da programação Flip e sua Tenda de Autores, existem eventos paralelos, dentre os quais a Flipinha, Off Flip e Flipzona (programação feita por e para adolescentes e que estreia este ano), o centro histórico de Paraty, o convívio com pessoas interessantes e, principalmente, o convívio nosso com minha filha e dela própria com essa efervescência torna a experiência mágica para mim e para ela.

Helena, ela é a razão primeira de estar aqui, ano após ano. Com quase cinco anos, já é a quinta Flip em que se muda para cá.

Meses antes da Flip, é ela sem dúvida, a pessoa mais animada e angustiada para que a data chegue logo.

Paraty é um grande e maravilhoso parque de diversões, também para crianças.

Lembro com carinho de ter encontrado e tomado café tendo como vizinho de mesa Augusto Boal, que começou a brincar com Helena e ela com ele, que chegou a perguntar se éramos mineiros pelo sotaque dela (a babá dela é). Rimos muito. Poucos minutos inesquecíveis.

Ano após ano somos obrigados a alugar uma casa e dentro do centro histórico, o que não é nada barato.

Não temos outra opção. Pousadas do centro histórico de Paraty não aceitam crianças. Algumas comunicam o fato discretamente, mas a maioria não se dá nem ao trabalho e informa a restrição infantil de forma explícita. Helena não tem autonomia para se auto-conduzir de um lado a outro por Paraty: o tempo todo quer cavalinho e o problema é que o cavalinho dela sou eu.

É verdade que estou muito mais para o Pé de Pano do Pica Pau do que o Ruminante de Cervantes. Um pangaré.

Apeada em minhas costas, vamos de um lado a outro da cidade de ruas de pedras. Este é o motivo pelo qual temos que ficar o mais próximo possível de onde o evento acontece, pois o cavalinho não aguenta transportar os vinte e poucos quilos de seu peso por muito tempo.

Assim, o único porém que nutro pela cidade é o fato de que algumas pessoas não enxergam a razão de ser da festa, que para mim fica evidente na visão do angolano Pepetela, que ano passado declarou que nuca imaginou ver tanta criança na praça e interessada em livros, leituras e autores. Ele percebeu imediatamente a importância disso em si e dos programas educativos que fazem a Flipinha.

Este ano não é diferente. O clima é de alumbramento (“a emoção diferente da poesia”). De encantamento.

É também a Flip dos jornalistas sem diploma, do twitter, dos celulares 3G e dos netbooks que permitam criar redes de comunicação muito mais rápidas do que jamais fora visto em edições anteriores: há pessoas sérias trocando informações, embora a maioria nem seja tão séria, e aqui me enquadro, porém, todas são essenciais ao bom ou ao mau humor. O sal das letras.

É a Flip da gripe suína. A cidade está mais cosmopolita do que nunca, ouvem-se múltiplos idiomas nas ruas, bares e restaurantes. Pessoas em grandes aglomerações, ou seja, condições ideais para a proliferação. Impedir o avanço da gripe nessas condições é impossível.

Mas num momento único de celebração e, este ano, no grau máximo do lirismo, que é pura libertação, pois que o homenageado é Bandeira. Que nos deu as coisas e os sentimentos mais complexos ditos de maneira simples. Que despertou e desperta ainda hoje, em tantos de nós, por mais resistentes, o gosto pela poesia.

E, de novo, na recomendação de Bruno Zeni e à moda de Bandeira: tomemos alegria!

Fotos: Luciano Dinamarco

2 comentários:

Carol disse...

Sensacional... Q várias e várias Helenas surjam por ai...

Ana Laura disse...

Papai, vc e a pessoa mais linda de Paraty. Muito obrigada que vc escreveu eu no seu computador.Beijocas de Helena (ditou isso para esa humilde escrivinhadora)