O repórter fotográfico Sidnei Costa contou à coluna os bastidores da cobertura durante a enchente que atingiu São José do Rio Preto (SP) no último dia 7. Foram dois segundos para captar o drama de voluntários no salvamento da balconista Gisele Cristina Nunes. “Alguém viu e gritou; foi só o tempo de virar e clicar”, afirmou.
Costa, 39 anos, milita há 14 no fotojornalismo. Estreou na Folha Norte –sucursal da Folha de S.Paulo em Rio Preto- em 1995. Passou pelo Diário da Região e nos últimos quatro anos fotografa para a Rede Bom Dia.
Não foi a primeira vez que o profissional enfrentou uma enchente por uma boa foto. Em julho, ele viveu situação parecida, acredite, no mesmo local. Veja aqui.
Depois do retrato, o relato. Acompanhe:
O CENÁRIO
- Eu tinha acabado de chegar na redação, às 14 horas, quando começou a chuva. Como já é comum inundar alguns pontos da cidade, avisei minha editora-executiva e saí com o motorista para fazer uma ronda. Fui para o local da foto por saber que tudo começa ali, na Avenida Alberto Andaló, além de ficar próximo à redação. Chegando lá encontrei Gisele na sua Bis, em cima da moto, encostada em outro veículo com a correnteza prensando ela sobre esse carro. Nesse momento, Thiago [um dos voluntários] já estava com a corda amarrada na cintura e entrando para tentar o resgate. Nesse local, há um posto de combustível, onde havia umas dez pessoas. Muita gritaria e desespero. Aí veio o pior. Não suportando a correnteza, Thiago caiu com Gisele e ela sumiu. Puxaram a corda e só veio ele. A moto foi levada, Thiago voltou e procurou por ela e não encontrou. Todos imaginavam que ela tinha sido levada pelas águas, mas depois de muita gritaria todos começaram a voltar às atenções para outro veículo, onde estava uma advogada chamada Regiane. De repente, Gisele conseguiu erguer um braço e mais duas pessoas entraram [na água] para ajudar no resgate.
OSSOS DO OFÍCIO
- Mesmo com a chuva, o lugar em que eu estava favorecia meu trabalho. O pior momento foi quando Gisele sumiu. Sem dúvida, o pensamento naquela hora era de largar tudo e entrar lá, mas já havia muitas pessoas lá e conclui que meu trabalho ali estava sendo feito.
UMA CHANCE
- Tive dois segundos para registrar a imagem principal [da mão erguida]. Consegui três fotos, duas boas. Foi muito rápido: alguém viu e gritou; foi só o tempo de virar e clicar. Permaneci ali até Gisele ser resgatada entre dez e onze minutos; ela ficou submersa três minutos. Foram muitas fotos. Num acontecimento desses temos que registrar tudo embora a maioria [das imagens] não represente muito o fato. Só nesta esquina, onde ocorreram os casos mais complicados com a Gisele, Regiane e o Thiago [que precisou ser resgatado], foram 223 cliques que, depois de selecionados, devem render no máximo umas 40 imagens para arquivo.
ROTINA
- Normalmente, duas ou três vezes ao ano temos inundações. Embora o fato tenha chamado a atenção da mídia, essa chuva não foi das piores. O prefeito [Valdomiro Lopes, PSB] tem como promessa de campanha acabar com o problema e diz que colocará o plano em prática no próximo ano.
O DIA SEGUINTE
- Essa foi a parte boa. Ainda no dia 7 já foi ótimo ver vários sites estampando a foto . No dia seguinte foi melhor ainda. Não sei ao todo quantos jornais a publicaram, mas o retorno de amigos e outros veículos foi grande. Com esse destaque, foi a primeira vez [que aconteceu]. A sensação é de dever cumprido. Gosto muito do que faço e, estar na rua registrando esses fatos, para mim é tudo. Tenho em mente que a melhor imagem ainda virá.
RATO DE ENCHENTE
- Já passei por enchentes piores aqui. A diferença dessa vez foi estar presente no momento em que o personagem correu risco de morte. Foi um momento dramático no qual fiquei satisfeito por ter um final positivo com o salvamento da Gisele. Por já ter passado por outras enchentes, é natural ter mais cuidado e saber até onde eu posso ir.
2 comentários:
É gratificante um dever cumprido mesmo quando significa a desgraça de outros. Relato muito com do Costa e belas imagens.
Meu querido amigo Marlon. Novamente visito seu blog, que admiro muito, por sinal... belo trabalho! Meu forte abraço e meus parabéns ao Sidnei Costa, que conheço "de crédito"... Obrigado, Marlon, por valorizar por meio de sua coluna essa função tão importante dentro do jornalismo: a do repórter-fotográfico.
Luciano Coca - militante do fotojo desde 1997! rs.
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